sábado, 11 de setembro de 2010

Semi-crônica

 

Vinte e sete anos de casada. Uma vida! Ou melhor, quatro vidas. Como o tempo passa rápido! Parece que foi ontem, parece que vivemos tudo isso em menos de uma semana. Uma relação construída de momentos, um caminho traçado dia após dia, cheio de mudanças, nuances.
Estamos cá hoje, ainda juntos, não vou mentir dizendo que estamos plenamente estáveis, afinal, estabilidade nunca fez parte do nosso cotidiano, mas não reclamo, no início eu até mesmo gostava, posso dizer que aquela menina que te conheceu, e que ainda vive aqui, continua gostando. Os relacionamentos com o passar do tempo sempre costumam ir ficando mais sólidos, mais estáveis, não sei se essa era a nossa intenção também, contudo, não posso dizer que não tentamos, e que falhamos completamente, pois aí, isso seria ficção.
Tudo começou por conta da melodia, principalmente, por conta do ritmo. O ritmo que desperta desejos, anseios. Hoje, mais experiente que ontem, tenho minha visão, ou melhor falando, minha audição reformulada, o que considero muito natural. Quando ouço a música ainda sinto, mas sinto de um modo diferente, não sei se você me entende. Lembro - não, recordo. Revivo todos os momentos, os toques, as trocas, só eu sei o quanto foi gratificante, o quanto foi essencial.
As notas prosseguem, vibram, não param, mas você sempre foi independente, auto-didata, cabeça-dura. Confesso, gostaria um pouco mais de compreensão da sua parte, em todos os sentidos. Justamente por falta desta, chorei. Chorei - ah, como já chorei. E sei que ainda chorarei mais, ouso dizer: o que mais nos aguarda no futuro são as lágrimas. Não quero pensar nisso, mas acaba sendo inevitável, quando se faz uma reflexão desta. Impossível não falar da dor, do sofrimento, da angústia de não poder fazer nada.
Um ano, um mísero ano comparado à tudo, no entanto, inteiramente marcante, especial em todos os sentidos. Um ano que ficou registrado espero que para a eternidade, se não ficar, só posso lamentar, pois minha parte eu fiz.
Não posso deixar de citar de forma alguma eles. Meus companheiros, minhas crianças, posso declarar aos quatro ventos que sem eles não haveria discurso, não haveria história, não haveria nada. Eles foram os idealizadores, os incentivadores de tudo.
Nossa relação começou transbordando, exacerbando produções. Admito que estas não foram devidamente trabalhadas, mas são muito significativas. Cada uma delas transmite não só o momento em qual virou realidade, mas toda uma evolução. São um conjunto, um pai, um irmão, um filho. Uma família.
Alguém um dia disse que todo homem deve, no mínimo, ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro, se considerar minha condição atual, redefinindo alguns conceitos, acho que posso sair de cena com a sensação de dever cumprido, no entanto, há pessoas que ainda não assistiram o espetáculo, portanto, feito uma atriz, prefiro começar tudo de novo.