quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O amanhã, cadê?

Por entre becos, ruas, e avenidas
Passo lhe procurando de tais formas
Que as estradas se tornam mais compridas.
E são ao mesmo tempo tão vazias.

O corpo pede, e a alma necessita.
Os meus sorrisos não são os mesmos
Do tempo que malícia tal não tinha.
Pois hoje, esse desejo me limita.

Percebi que até então nada tive.
Depois de ter um mundo conhecido
Sinto que em meu penar falta um sentido.

Desde então não há mais o que eu faça
Não podendo sentir-lhe, não a tendo,
Não sei de que me serve tal carcaça.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Cajuína



"Existirmos - a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina"


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Chico x Caetano

Sempre gostei muito de escutar Chico Buarque e Caetano Veloso, os dois são geniais, os dois compositores, ainda vivos, mais brilhantes que existe. Os outros podem ser bons, mas os dois estão acima, noutro nível. Porém, quando perguntam quem eu mais admiro, não sei dizer. São incomparáveis.

Certo dia, no meu ofício de jornalista tive a Honra e o Prazer de encontrar os dois juntos e não perdi a oportunidade. Perguntei primeiro ao Caetano.

EU: Caetano, quem você considera mais genial, você ou o Chico?

Ele me responde com aquele jeito baiano que só Caetano têm.

CAETANO: Pow, eu não me considero um gênio, longe disso... Não tem nem comparação... Chico é uma coisa inexplicável, sem dúvida é um gênio.

Repito a pergunta ao Chico.

EU: Chico, quem você considera mais genial, você ou Caetano?

Ele fica meio sem jeito com a pergunta, pensa um pouco para responder.

CHICO: Bom, primeiramente, eu não me considero genial, me considero feliz no que eu faço. Agora, Caetano... Caetano é um gênio, um filósofo, idealista, que de tempos em tempos se renova, ele é realmente genial.

Agradeço aos dois e parto. De nada adiantou estas perguntas, fico na mesma situação. Só que agora acho Chico genial porque Caetano o considera um gênio, e acredito que Caetano é um gênio, porque Chico o considera genial.

sábado, 10 de outubro de 2009

Um mês de mesa de jantar

"Sei daquela mesa de jantar"

Palavras perdidas num canto qualquer, uma vaga idéia, apenas entusiasmo. A necessidade de nos expressarmos é forte. Amadores, amantes da palavra. Palavra que se transformou em nosso dia-a-dia, dia-a-dia que se transformou em nossa palavra. Idéias platônicas. Atitudes, a ausência delas. Amores, amores, amores. Solidão. Mas, o que mais prevalece é a aprendizagem. Aprender a caminhar junto com o tempo, às vezes acelerar um pouco, outras ir mais devagar.


Um mês de longas, e boas, conversas na mesa de jantar.

Imortalizado por histórias

Caminhava a favor do vento, seus cabelos meio ondulados não se aquietavam em sua cabeça. Não sei para onde se dirigia, só sei que partia, que se distanciava cada vez mais. Mas os olhos que a perseguiam não se deixavam enganar, somente quando uma barreira de concreto impediu sua visão, desviou o olhar.
Parecia hipnotizado sempre que surgia, mesmo que quisesse não conseguia parar de olhar. Olhava não se sabe o quê. Seu rosto? Seu corpo? Sua roupa? Ou, sua fisionomia por completo? Poderia estar olhando, de uma forma ou de outra, até mesmo seu interior, seus pensamentos. Não se sabe muito bem o que este olhava, só se sabe que reparava e gravava em sua mente todos os detalhes a que diz ao seu respeito. Olha-la era seu deleite, e só isso bastava para ele.
Gostava do seu jeito de mulher, mas enxergava dentro dela uma menininha ingênua e sincera. Era a união do presente com o passado. União entre a meninice e a responsabilidade diante do mundo. Isso encantava-o, só por vê-la abria um sorriso. Tudo nela o agradava, achava-a a perfeição, se é que esta pode ser alcançada, em pessoa.
Vez em quando, trocavam uma ou duas palavras, após esse breve "encontro" era impossível que algo o abalasse. Quando sem querer seus olhares se cruzavam e não havia como disfarçar, lançava um sorriso, dava um oi, mas depois, ficava vermelho de tanta vergonha .
Sabia que chegaria o dia em que não se encontrariam mais, e este o preocupava cada vez mais, um "amor" puro e sincero como esse não poderia morrer assim. Depois de muito pensar, chegou a conclusão que nunca se separariam, que o "destino" encarregaria-se de mantê-los juntos. Seja por lembranças, imortalizados por histórias ou até mesmo se reencontrariam numa outra ocasião.

Adeus eu vou

Hoje estou indo pra não voltar.
Agora o tempo vai me levar
Adeus.
Estou pronto para a longa estrada,
Este sofrer tem vida encerrada.

Quero vê-la feliz, minha flor.
Saiba que vou, mas deixo o amor.
Sorria.
Te sustenta, e te fortalece,
Te ajeita, então recomece.

Quero vê-la maior, minha princesa.
Deixar-te aqui és minha maior tristeza.
Sonhe.
Ao correr do tempo você vai ver,
Que de amor e beleza é feito o viver.

...

O corpo caído,
De rosto sofrido.
Seco.
Então vem o frio,
E um lento arrepio.

Um sorriso,
De dar dó.
Adeus,
Então só,
Eu vou.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

"De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou."

William Shakespeare

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Continuemos...

"Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente..."


Será que trechos de músicas bastam? Não.

Oh Capitain, My Capitain!

Poucas ocasiões deixam-me realmente sem palavras, o dia todo elas me escapuliram!

Quero dizer tudo, mais esse tudo não vai dizer nada.

"Que comecem as estações - elas rolam como devem"

sábado, 3 de outubro de 2009

É bom saber

É bom saber,
Os olhos com que sempre sonhei,
Não eram os olhos teus.
Os lábios que em sonhos beijei,
Não eram os lábios seus.

Se em algum momento eu te decepcionei,
Fique certa de que não foi minha intenção.
Se por acaso uma confusão formei,
Foi por culpa deste insano coração.

Perdoe-me, pois me enganei,
Quando jurei meu amor ser teu.
Saiba, não era você,
A dona dos sonhos meus.

Crônica de Uma Morte Anunciada

“Nunca houve uma morte mais anunciada.

(…)

Além disso, os cães, excitados pelo cheiro da morte, aumentavam a agitação. Não tinham parado de uivar desde que eu entrei na casa, quando Santiago Nascar ainda agonizava na cozinha, e fui dar com Divina Flor chorando em alta grita, e mantendo-os em respeito com uma tranca.

(…)

Despontava uma terça-feira turva. Não tive coragem para dormir sozinho ao fim desta jornada opressiva, e empurrei a porta da casa de Maria Alejandrina Cervates a ver se não tinha corrido o ferrolho. As cabaças de luz estavam acesas nas árvores, e no pátio de baile havia vários fogões a lenha com enormes panelas fumegantes, onde as mulatas tingiam de luto as suas roupas das festas. Fui dar com Maria Alejandrina Cervantes acordada como sempre ao amanhecer, e completamente nua como sempre que não havia estranhos em casa. Estava sentada à turca sobre a cama de rainha diante de um pratalhão de comida: costeletas de vitela, uma galinha cozida, lombo de porco, e uma guarnição de banana e legumes que teriam dado para cinco pessoas. Comer sem medida foi sempre o seu único modo de chorar, e eu nunca a tinha visto fazê-lo com tanta mágoa. Deitei-me a seu lado, quase sem falar, e chorando também a meu modo. Pensava na crueldade do destinho de Santiago Nascar, que lhe tinha feito pagar vinte anos de felicidade não apenas com a morte, mas também com o retalhar do corpo, e com a sua dispersão e extermínio. Sonheo que uma mulher entrava no quarto com uma menina nos braços, e que esta mastigava sem respirar e os grãos de milho meio mastigados caíam no seu soutien. A mulher disse-me: ”Ela mastiga à maluca, sem ligar, sem desligar”. De repente senti os dedos ansiosos que me desapertavam os botões da camisa, e senti o cheiro perigoso do anomal de amor deitado atrás de mim, e senti que me afundava nas delícias das areias movediças da sua ternura. Mas parou de chofre, tossiu de muito longe e safou-se da minha vida.

(…)

E não era só eu. Tudo continuou a cheirar naquele dia a Santiago Nasar.

(…) “