domingo, 25 de abril de 2010

A Metamorfose Abrasileirada

Agora vô conta pr'ocês uma história dessas antiga, muito antiga, que ninguém se lembra mais se é verdade ou se é mentira. Mas dizem que aconteceu mesmo, com os ta-ta-ras não sei da contas do Seu Senhor Nosso Prefeito, que, nessa época, moravam numa cidadezinha aqui perto. Mais vô contá dum jeito bem resumido, mais bem resumidinho mesmo, que é pra não cansá - eu não cansá de conta, de me alembrá, e vocês não cansá de escutá.
Numa manhã, ao abri os zóio, um cabra chamado Gregório, viu que não era mais homi, ele tinha virado um  inseto, muito feio por sinal. Esse Gregório, tinha fama de ser um cabra porreta de bom, conseguia sustentar toda  família: um pai aposentado, que ganhava um mixaria, pobrezinho; a mãe, que só cuidava do marido, dedicada que só vendo; e a bichinha da irmã, que era muito inocentizinha.
Nesse dia, o cabra se atrasou demais pro trabaío - também né, como ele podia trabaía - que o chefe foi até a casa dele. E quando boto os zóio em cima do cabra,  fico da cor de burro quando foge e se escafedeu, a mãe, que não tinha visto ele ainda, desmaiô, tadinha, e o pai, não acreditando que aquilo era seu fio, enxotô ele de novo pro quarto. A bichinha da irmã, que era muito inocentizinha mesmo, ficô responsável por levar a comida do seu irmão-inseto.
Com o passar dos dia, ela e a mãe tinha esperança que ele voltasse ao normal, mais isso era mais impossível do que caí água no sertão em tempo de seca, então a dó que elas tinha se transformô em ódio. Judiavam demais do cabra, deixava ele trancafiado no quarto o dia todo e ele ficava escutando tudo que acontecia na casa. Sua família, sem seu apoio, passava, o que todos nós temos, dificuldade financeira, o que levô todo mundo a trabaía e a alugá o melhor quarto da casa, que não era lá essas coisas, né.
Por uma questão de educação, eles tiraram tudo que não prestava da vista dos hóspede e jogaram tudo no quarto do Inseto, e como disse que era casa de gente humilde, o quarto se encheu de traia. Uma noite, depois da janta, a bichinha da irmã, que não era mais tão inocentizinha assim, tava tocando uma sanfona pros hóspedes e Gregor, aproveitando que a porta do seu quarto tava aberta, vai até a sala, atraído pela música. Ao vê aquele bicho, que devia sê horrível mesmo, os hóspede tem uma reação pior que a do chefe: se assustam, xingam a família e, dizem que, nem pagaram pela estadia.
Depois do ocorrido e o cabra voltá pro quarto, ele escuta a família discutindo e ouve sua irmã, que agora não era mais nada de inocentizinha, dizê que prefiria que ele tivesse morto. Na manhã seguinte, ao abrí a porta do quarto do Inseto, a empregada vê que ele tá morto, mas, ao invés de se arrependê, como era de se esperá da família, eles ficam aliviados e mudam de cidade pra esquecê toda essa história. Mais como dizem, isso é só simpres e meros boatos, né.

domingo, 11 de abril de 2010

Poderia até pensar que foi tudo sonho

I

Deixaremos fluir, afinal, tudo flui. Não interviremos em absolutamente nada, agiremos normalmente, como se nada houvesse acontecido. Mas me pergunto, o que aconteceu de tão grave? Como deixamos as coisas chegar a esse ponto? E por quê?
Não sabemos. Nenhuma explicação plausível - não adianta nem tentarmos explicar e talvez nem precisemos de explicações. Afinal, para que antecipar algo que sabemos que acontecerá? Deixemos rolar. Quem sabe um dia acontece repentinamente.
Mas temo, tenho medo que isso nunca chegue acontecer. Ser tudo uma fantasia criada por duas mentes. E se as coisas fluírem em direções opostas? Incertezas, somente incertezas. Nada é certo. Lágrimas ou sorrisos? No momento: lágrimas.
O receio também é constante. Acima do medo de que nada aconteça, se sobressaí o medo de que um dia eu possa vir te magoar. Eu quero tudo, mas não sei ao certo se quero. E se minha vida mudar completamente? Lutei para chegar onde cheguei.
Uma agonia, não gosto de ser dominado, pior ainda, dominado por algo que não sei os riscos. Sempre estou no controle, e pela primeira vez não sei o que fazer, não vejo saídas. É um beco escuro, rodeado de casas, onde não sei o que pode acontecer caso gire a maçaneta d'alguma porta.
Alguma Luz pode estar atrás da porta, mas qual? Sento e espero alguém vir me salvar? Não posso, vai contra todos os meus princípios éticos e morais. Mais lágrimas, um rio de lágrimas. E agora?
Sento-me e começo a observar. Observar o quê? As portas fechadas? Talvez. Me pergunto: um dia esta agonia terá fim? Pelo que dizem, tudo acaba, ou melhor, o amor acaba.


II

Errei. Fiz a escolha errada. Devia ter insistido um pouco mais, me machucado um pouco mais. Tudo fluiu para a direção errada. Saiu tudo errado. Tive chances, mas deixei passar. Quis acertar mas já era tarde. Tenho só que me desculpar por tudo o que fiz e conscientemente continuo fazendo. Acabo me concentrando no que faço, acumulando funções, querendo não pensar, descontando nos outros minhas próprias angústias, me isolando.
Agora você vive sua vida, está bem e até mesmo feliz. Eu atormentado como sempre, vivo, apenas vivo. Um texto inacabado, palavras soltas, emoções gravadas e guardadas num canto qualquer. Um dia triste, uma trilha triste, reflexões doloridas. Escrevo para aliviar, para pensar, para me conformar.
No fundo, nada mudou, parece que parei no tempo, fui esquecido por todos, até mesmo por mim. As dúvidas ainda levo comigo, receio está sempre presente, medo e agonia são meus companheiros para toda eternidade. Lágrimas ou sorrisos? Não só neste momento, mas diariamente, lágrimas.
Um texto de despedida, mas permanecerei estático no centro do beco escuro, com medo do que está por vir, esperando a salvação que nunca aparecerá e me perguntando: um dia esta agonia terá fim? E pelo que continuam dizendo, tudo acaba, ou melhor, o amor acaba.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Cena I

Olhava para todos os lados, desesperada, desesperançada. Olhos arregalados, órbitas ouriçadas. Só isso se via daquele ser, um pedido de socorro demasiado humano, e ainda assim Todos fingiam não notar.
O corpo se retorcendo compulsivamente querendo se libertar do inexistente, de parametros que ainda não foram traçados e talvez, nem cheguem a ser. Um corpo que acima de tudo pretendia se desligar do Padrão.
Gritos mudos ecoavam pelos milhares de corredores que a cercavam, embora em nenhum deles houvesse um Ser que a pudesse, ou quissesse, ajudar. Gritos que marcavam como ferro a brasa aqueles que atingiam.
Viamos claramente agora as amarras que a prendiam, num olhar dum instante, notavamos toda a expressão que corpo já passará ao longo de sua História, enxergavamos o bando de corpos acumulados que este ser já fora.
Ações reprimidas, gritos contidos, especialidades que fora obrigada a desenvolver. Chutes, socos, mordidas, movimentos certos a quem assim se encontra, fazem deles armas Lúcidas, com que se defende e sempre se defenderá. Condenada e crucificada está, e presa a toda eternidade ao Amor, principalmente a liberdade, permanecerá.