quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O tempo leva ao esquecimento.

Numa tarde ensolarada-chuvosa, um casal de velhos sentados um ao lado do outro, fazia uma de suas tarefas preferidas, relembrar o passado, os tempos de juventude, as "loucuras" da imaturidade, lembrar de um tempo que já foi.
_ Meu bem, você se lembra daquela viagem que nós fizemos para aquela praia, que ficava numa ilha, o Jorginho estava junto até; como é o nome do lugar, mesmo?
_ Ora, claro que lembro, como poderia esquecer?! Nós acampamos, passamos três dias longe de casa. Chamávamos somente de "Prainha", meu bem.
_ É mesmo, Prainha! Ficamos lá três dias, os mosquitos iam acabar com a gente se ficássemos mais um. Foi uma loucura!
_ É mesmo, uma loucura! Mas, sabe? Queria voltar lá qualquer dia, não para acampar é claro, mas queria ver como está lá.
_ Seria bom mesmo!
Enquanto falavam da viagem, seus olhos escuros, duros, desesperançados, que só o velhos têm, recuperavam um pouco da juventude de outrora.
_ Meu amor, lembra-se do dia que o nosso curumim nos informou que iria ser pai?
_ Ô se lembro! Você não acreditou! Pensou que era brincadeira!
_ Lógico! Aquele menino era levado demais! Vivia sempre mentindo pra gente!
_ Você quase bateu nele para que falasse a verdade!
_ É verdade! Eu lembro! Foi muito engraçado!
Enquanto lembravam do "curumim" deles, esboçavam aquele sorriso vazio que os velhos costumam ter, mas, ao mesmo tempo, era o sorriso de um bebê que ainda os dentes não cresceram, que está descobrindo o mundo agora.
_ Meu amor, você lembra do dia em que o Miltinho veio a nos deixar?
_ Como poderia esquecer! Foi um dia muito difícil! Gostava muito dele!
_ Eu também! Ele que nos apresentou! Era muito especial!
Enquanto recordavam, a solidão que só os velhos sabem sentir pairou sobre os dois, então os olhos e o sorriso que os velhos haviam adquiridos sumiram, e voltaram a ser velhos novamente.
_ Meu amor, acho que desde que te conheci, lembro de todo segundo da minha vida.
_ Eu também, meu amor, cada momento ao teu lado é inesquecível!
Silêncio.
_ Meu bem, se eu te disser uma coisa, você não fica magoado?
_ Nunca, amor.
Uma hesitação antes de falar, e uma melancolia na voz.
_ Não consigo lembrar de mais nada.
E com uma tranquilidade na voz, o velho diz:
_ Tudo bem, meu bem, veja o meu caso, também acabo de esquecer tudo.

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