segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Antes asmático do que qualquer outra coisa

Asma. Asma. Asma. O próprio nome já me incômoda. As vezes até esqueço que sou asmático, mas numa madrugada, a terceira madrugada do ano, por volta das quatro da manhã é impossível esquecer esse problema. Que azar começar o ano assim, asmático.
Tento me lembrar dos anos em que as crises eram mais constantes, mas eu vou lá lembrar de alguma coisa a essa hora? Eu queria somente dormir, amanhã eu tinha planejado começar o meu ano definitivamente, sendo esta uma segunda-feira, mas não. Não consigo dormir, essa respiração chata, que só os asmáticos – e as irmãs dos asmáticos – sabem como é não deixa.
Falo em irmãs, pois, a pouco minha irmã, não conseguindo dormir devido, provavelmente, a esse barulhinho infernal, me pergunta se tenho certeza que não quero fazer uma inalação. Eu, como macho orgulhoso que sou, respondo que não precisa, não é nada. Cá estou eu com minha macheza acordado respirando feito um tonto.
Além do ruído asmático, também tem o chiado da chuva, eu até gosto de dormir com este, mas hoje, que não consigo dormir também me incômoda. Enquanto espero passar o tempo tento escrever algo que preste, mas pelo tema que escolhi vejo que vai ser um pouco difícil.
Na minha triste condição, lembro-me de um que foi muito além da minha, agora mansa, situação respiratória. Decido, para deixar meu texto um pouco mais substancial buscar referências. Vou a prateleira de livros, retiro o único exemplar que tenho de Manuel Bandeira, leio uns três ou quatro poemas relacionados, corro ao dicionário e estanco.
Segundo o Aurélio, descubro que agora pelas cinco da manhã encaro uma “condição mórbida caracterizada por acessos recorrentes de intensa dispnéia, com respiração ruidosa”. Meu Deus! Não sabia que era grave assim! Cadê minha inalação, Senhor?! Minha irmã têm que acordar neste momento. Imagine, passei minha vida toda deixando isso de lado, como pude até esquecer?! Totalmente apavorado, tomo, quem sabe, a decisão mais importante da minha vida, dar uma espiada no significado da palavrinha nenhum pouco simpática acima.

Dispnéia: sf. Med. Dificuldade de respirar. § disp-néi-co adj.

As..As...Asm... Depois dessa dou-me o direito de encerrar aqui meu texto e ir tentar, apenas tentar mesmo, dormir. Aurélio, faça-me o favor, já são cinco e meia! Ah, agora o nome asma é o que menos me incômoda, pois, como todo mundo, eu acho, prefiro ser chamado de asmático do que dispnéico, mas isso, é claro, nem precisava dizer.

Um comentário:

  1. Querido Arthur...como é bom ler seus textos!!
    vc os constrói com leveza...a gente consegue viajar em suas palavras.....como se fosse um filme.
    Independente se asma ou dispnéia, é a forma digna com que vc enfrenta a situação.

    bjs Aída

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